A disseminação dos computadores e da Web possibilitou o surgimento de uma modalidade textual diferente e que exige também um tipo diferenciado de leitura (como vimos acima) e de escritura. Essa nova modalidade textual, denominada hipertexto, tem como base a hibridização das tecnologias e a convergência das mídias graças às tecnologias digitais que por ser dotada de altíssima flexibilidade, rapidez de transporte e de sua capacidade de armazenamento possibilita a criação de um extenso texto disponibilizado em rede.
7.5.1. HIPERTEXTO
Com a popularização da Internet e das redes digitais, iniciou-se a passagem da cultura escrita para a cultura digital, originando-se um novo tipo de texto multimidiático, o hipertexto, que, embora não seja algo exclusivo do ambiente digital, uma vez que pode ocorrer também no suporte impresso (como as enciclopédias, dicionários etc.), encontrou nas redes digitalizadas as condições ideais de expressão, a partir de uma série de características que fazem do seu processo de leitura e produção uma atividade bem diferente daquela que define o texto convencional impresso.
Reflitamos, primeiramente, sobre algumas características que definem o hipertexto, fazendo um retorno à sua história. O termo hipertexto surge nos anos 60, criado por Theodore Nelson, o qual teve o intuito de designar “a idéia de escrita/leitura não linear em um sistema de informática” (apud CAVALCANTE, 2005, p. 164). Contudo a idéia de hipertexto é bem mais antiga, pois a idéia é enunciada pela primeira vez em 1945 pelo matemático Vannevar Bush. Ao pensar no que mais tarde seria denominado hipertexto, ele imaginou um sistema de organização de informações que funcionasse de maneira semelhante ao sistema de raciocínio humano: associativo, não linear, intuitivo e imediato.
O termo designa, então, uma maneira de escrever e ler que não segue um caráter linear como estamos acostumados com a leitura do livro impresso, e permite ao leitor por meio de suas ramificações, o acesso ilimitado de busca ao conhecimento que se encontra armazenado na rede. Trata – se, pois, conforme diria Marcuschi (apud KOCH, 2006, p. 63), de um processo de leitura/escritura multilinearizado, multissequencial e não determinado, realizado em um novo espaço – o ciberespaço”.
Por conta disso, implica dizer que com a noção de hipertexto surge uma nova noção de leitura/leitor, em cujo processo, o leitor coloca em ação habilidades bem mais complexas do que as exigidas pelo leitor do livro impresso, uma vez que o leitor virtual precisa acionar em maior grau seus conhecimentos prévios e também, ao estar em contato com o texto eletrônico, o leitor necessita traçar de antemão seus objetivos de leitura para que não se perca entre os nós e links que constituem o texto virtual.
Conforme Xavier (apud BRAGA, 2005, 145, grifos no original), o hipertexto é uma espécie de texto que representa “uma tecnologia enunciativa que viabiliza a emergência de uma nova forma de acessar, produzir e interpretar informações de maneira mulsensorial que se constitui no modo de enunciação digital”. Trata – se de uma produção textual que não tem mais começo, meio e fim. E essa ruptura com a linearidade é a característica central do hipertexto. E essa modalidade textual tão flexível pressupõe um leitor ativo, visto que, depende dele a construção do roteiro de leitura.
Entretanto, para Marcuschi (apud KOCK, 2006, p.67), “a novidade propriamente dita que traz o hipertexto está na tecnologia que permite integrar de modo eficaz, elementos que no texto impresso, se apresentam sob a forma de notas, citações bibliográficas, referências, imagens, fotos, etc. Partindo desses pressupostos de semelhança de alguns fatores presentes nos textos e hipertextos, Koch (2006), afirma que todo texto é um hipertexto, visto que, assim como os textos virtuais, os textos convencionais também fazem “as chamadas para as notas ou as referencias feitas no corpo do trabalho funcionam como links” (p. 61). Os links são partes internas constitutivas dos textos virtuais e como define Gomes (2007), “o link é um elemento de navegação”, enquanto que para Landow (apud GOMES, 2007), o link é o elemento que o hipertexto acrescenta à leitura e à escrita”. Ou seja, os links são como peças-chave constituintes do hipertexto que possibilita ágeis deslocamentos de navegação, por meio dos quais o leitor pode saltar de uma janela a outra enquanto navega nas superfícies das telas eletrônicas.
Conforme Koch (2006), os links possuem diversas funções: as funções dêiticas, coesiva e cognitiva.
• Os links com função dêitica na escolha de foco de conteúdo, servindo também para ajudar o leitor a realizar uma leitura mais aprofundada se assim for de seu interesse e objetivos de leitura.
• Os links com função coesiva servem para “amarrar” as partes esparsas de maneira coerente. Sem a presença desses links seria difícil garantir a fluência da leitura e da compreensão, podendo haver uma dispersão da atenção do leitor. Tais links quando atados adequadamente auxiliam o leitor a encontrar informações relevantes para seus interesses de busca.
• Os links com funções cognitivas chamam a atenção do leitor de acordo com os modelos que ele já esboçou em sua mente, portanto, são links que servem para aguçar o desejo do leitor a descobrir o que há no interior desses links, uma vez que o leitor mesmo antes de começar o processo de leitura, levanta hipóteses referente às informações que ele tem como meta encontrar. Por fim, os links disponibilizam um conjunto de opções que podem ser exploradas no processo de leitura.
No entanto, por tudo o que aqui foi exposto, vale dizer que apesar de uma das características do hipertexto ser a quebra da linearidade, isso não significa dizer que não haja uma seqüência lógica mínima que auxilie o leitor numa leitura coerente, pois um texto desprovido de elementos coesivos acaba sendo um aglomerado de palavras que não leva a sentido nenhum. “A questão da relevância na continuidade tópica aparece como central, pois nem tudo pode seguir-se a tudo” (MARCUSCHI, 2001, p. 88). Ou seja, apesar do hipertexto ser visto como algo um tanto fragmentário, necessita de uma previsão mínima para que estabeleça, assim, uma coerência na leitura. Nas palavras de Xavier (apud KOCH, 2006, p. 69), “é importante que as palavras linkadas pelo produtor do texto constituam realmente palavras-chave, capazes de levar o leitor a estabelecer, ao navegar pelo hipertexto, encadeamentos com informações topicamente relevantes, de modo a construir uma progressão textual dotada de sentido”.
E o sentido de que fala o autor, será atribuído pelo leitor, como foi exposto acima, será ele quem irá trilhar seu caminho na estrutura hipertextual conforme o objetivo da leitura ou o “problema” a ser resolvido.
7.5.2. GÊNEROS HIPERTEXTUAIS DA WEB
Com o advento do hipertexto houve uma mudança significativa tanto na nossa maneira de ler, como foi exposto acima, como também na nossa maneira de escrever. E com a tecnologia eletrônica surgem os vários gêneros digitais que concretizam uma espécie de “radicalização do uso da escrita”, visto que, esses novos gêneros têm como suporte a modalidade escrita da língua. De acordo com Marcuschi (2005, p. 18), “um dos aspectos essenciais da mídia virtual é a centralidade na escrita, pois a tecnologia digital depende totalmente da escrita”. Contudo, vale ressaltar que não apenas a escrita se faz presente nessa modalidade textual, como também outras linguagens não-verbais como o som e a imagem, como bem lembra Xavier, trata – se de um texto formado pela bricolagem de várias linguagens (som, imagem e escrita).
Algumas expressões como e-mail, chat, blog já fazem parte das nossas relações comunicacionais do cotidiano, acelerando a comunicação nas práticas sociais. Esses novos gêneros digitais são capazes de propiciar uma interação bastante interativa e, ao mesmo tempo, concretizam “uma nova forma de uso da língua enquanto prática interativa” (MARCUSCHI, 2005, p. 20). E tudo isso nos dá uma nova noção de comunicação no meio social.
Em meio a esses novos gêneros há aqueles que possibilitam uma comunicação sincrônica, ou seja, uma comunicação que se estabelece em tempo real como é o caso dos bate-papos virtuais e também há aqueles que possibilitam uma comunicação assincrônica que é uma espécie de comunicação que não se estabelece em tempo real como é o caso do e-mail. Trata-se, então, de gêneros um pouco diferenciados, com características próprias.
Como se sabe, todas as tecnologias comunicacionais novas geram ambientes e meios novos. Assim foi a invenção da escrita que gerou um sem-numero de ambientes e necessidades para seu uso, desde a placa de barro, passando pelo pergaminho, o papel até a invenção da imprensa com os tipos moveis […] Hoje a internet tornou-se um imenso laboratório de experimentação de todos os formatos (MARCUSCHI, 2005, p. 26).
Isso mudou a nossa maneira de comunicação e interação social, possibilitando inúmeras transformações no contexto comunicacional e também com relação à disseminação do saber.