Do Texto Ao Hipertexto Experienciando Estrategias De Retextualizacao Digital

SUBPROJETO DE INICAÇÃO CIENTÍFICA

DO TEXTO AO HIPERTEXTO - EXPERIENCIANDO ESTRATÉGIAS DE RETEXTUALIZAÇÃO DIGITAL

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MATO GROSSO DO SUL
PIBIC/CNPQ/UEMS
2008-2009

RESUMO

A passagem da cultura escrita para a cultura digital no final do século XX, com a popularização da Internet e das redes digitais, originou um novo tipo de texto multimidiático, o hipertexto, cujas características e cujo processo de leitura e produção é bem diferente daquele que define o texto convencional impresso. Este Subprojeto possui o objetivo de realizar um experimento de transformação de um texto convencional num hipertexto digital, buscando selecionar e sistematizar estratégias que permitam essa retextualização de modo eficaz, na expectativa de utilizar esse recurso no ensino-aprendizagem da produção hipertextual.

Palavras-chave: letramento digital, hipertexto, retextualização.

INFORMAÇÕES RELEVANTES PARA AVALIAÇÃO DA PROPOSTA

Este Subprojeto desenvolverá uma ação relevante para a pesquisa pertinente ao Projeto principal do Orientador (O LETRAMENTO DIGITAL E O ENSINO COOPERATIVO NA EDUCAÇÃO BÁSICA: A CONTRIBUIÇÃO DA PLATAFORMA WIKI), já que o letramento digital inclui, necessariamente, a aquisição das habilidades de retextualização do texto impresso para o hipertexto digital.

1. INTRODUÇÃO

Nas culturas orais, que não conheciam (ou conhecem) a escrita, a comunicação acontecia (acontece) face a face, isto é, os interlocutores participavam (participam) do mesmo contexto comunicacional. A escrita inaugurou uma segunda etapa na história humana. Através dela, principalmente após a divulgação da imprensa, o homem se acostumou a expressar sua visão de mundo, sua cultura, seus sentimentos e vivências, no papel.

A partir dos anos 1990, com a difusão da Internet e da Web, surge uma nova forma de cultura, a cibercultura, que se desenvolve no novo espaço digital, o ciberespaço (LÉVY, 2003), que vem gradativamente substituindo o papel como suporte para as informações e as omunicações digitalizadas. Inclusive, esse suporte aceita e integra todas as outras formas de linguagem (verbal e não-verbal), as denominadas mídias digitais ou multimídia, ampliando as formas de comunicação disponíveis aos usuários das redes de computadores. Segundo Ramal (2000), “trata-se de um ciberespaço, interativo e receptivo a todas as vozes conectadas que desejem escrever uma parte do megatexto produzido pela inteligência coletiva”.

Nesse contexto, as inovações tecnológicas digitais tais como as TIC – Tecnologias da Informação e Comunicação (os sistemas informatizados, a Internet e as redes de computadores tais como a Wide World Web e os e-mails) assumem um papel cada vez mais importante. Essas novas tecnologias digitais acabam por nortear a forma como o conhecimento é produzido e transmitido e começam a ser analisadas enquanto ferramentas úteis à educação, que podem contribuir efetivamente para o aprimoramento das relações de ensino e aprendizagem, para o letramento e a inclusão digital.

O conhecimento escolar da cultura imprensa se estruturou como as páginas de um livro: linear, encadeado e não-segmentado, visto que num livro é difícil, mesmo incômodo, consultar dois trechos de páginas diferentes ao mesmo tempo. No ciberespaço virtual, surge uma nova forma de escrita e de comunicação, um novo texto multimidiático, o hipertexto, cujas características são bem diferentes do texto convencional impresso e que exige, por parte dos escritores, novas formas de textualização. Segundo Ramal, um hipertexto é algo que vai além do texto do texto convencional impresso, cujas “páginas” podem ser agrupadas e reagrupadas pelo leitor, segundo o seu próprio roteiro.

Ramal afirma que o hipertexto “subverte” o texto impresso, em vários aspectos:

• É subversivo em relação ao “monologismo” da escrita impressa: trata-se de uma “reunião de vozes e olhares” […], construído na soma de muitas mãos, e aberto para todos os links e sentidos possíveis”. De certo modo, o hipertexto é uma versão da polifonia que Bakhtin, “uma possibilidade para o diálogo entre as diferentes vozes, para a negociação dos sentidos, para a construção coletiva do pensamento”;
• O hipertexto é subversivo na relação entre autor e leitor. Este último não precisa mais seguir a “ordem” prescrita pelo autor: constrói o seu próprio percurso, começa e termina por onde deseja, o que subverte a noção de “autoria”;
• Em função do que foi dito acima, o hipertexto é subversivo com relação à linearidade. Diferentemente do texto impresso, ele não tem mais um começo, um meio ou um fim definidos. Ler, agora, é “mergulhar nas malhas da rede”, sem um percurso estabelecido por antecipação.
• Um hipertexto é subversivo com relação à forma. Ele amplia os recursos expressivos do texto escrito, pelo fato de mixar todas as mídias existentes: a palavra, a imagem, o som, a animação, a realidade virtual etc.;
• O hipertexto é subversivo até com relação à postura física do leitor. Ele não mais segura o papel, nem vira páginas com as mãos, mas “rola” uma tela de computador, ou clica com o mouse nos inúmeros links que o hipertexto costuma apresentar. Além disso, agora, o leitor usufrui da visibilidade das “janelas”, da abertura das múltiplas caixas de texto, dos recursos de cortar e colar fragmentos e da infinidade de dobras caleidoscópicas.

Essas características exigem do leitor e, principalmente, do autor de hipertextos novas competências e habilidades, que a Lingüística Textual não está preparada para suprir. Torna-se necessário, então, novas teorias e estratégias para lidar com esse texto virtual, que exigirão um repensar de alguns dos pressupostos básicos do ensino de produção textual na escola. Uma das estratégias que podem ser adaptadas ao ensino do hipertexto, a partir das concepções do texto impresso que a maioria já domina, é a chamada retextualização.

Neste Subprojeto, tomaremos por base a concepção de Marcuschi (2001) sobre a retextualização, transportando-a (como fez Marcuschi em relação à transformação da oralidade para a escrita) do texto convencional para o hipertexto digital, tomando por base a orientação de estudiosos da hipertextualidade, como Landow (1997), Nielsen (1997) e Killiam (2002) A atividade básica de retextualização consistirá na transformação de um texto impresso para o formato hipertextual, utilizando-se a estratégia da reescritura de textos.

2. OBJETIVOS
Através deste estudo, pretendemos desenvolver um experimento de retextualização de um texto impresso para o formato hipertextual, tendo em vista as seguintes finalidades:
a) Analisar os novos fatores de textualidade do hipertexto, estabelecendo as diferenças entre estes e os textos impressos convencionais;
b) Estabelecer estratégias que facilitem a retextualização do texto para o hipertexto;
c) Utilizar essas estratégias em atividades concretas de retextualização hipertextual;
d) Analisar o efetivo resultado dessas estratégias, a fim de sistematizá-las para uso efetivo no ensino de produção hipertextual.
3. METODOLOGIA

Esta é uma pesquisa experimental, envolvendo o trabalho cooperativo de três sujeitos, alunos do Curso de Letras de Nova Andradina, inclusive com a participação, no experimento, do próprio pesquisador-bolsista. Para as atividades de retextualização será utilizado um texto impresso não ficcional de, aproximadamente, 10 páginas. O hipertexto será construído na Web, através da plataforma Wiki. As atividades metodológicas serão as seguintes:
• Leituras relativas ao tema pesquisado, para fundamentação teórica;
• Orientação aos demais sujeitos quanto ao uso da ferramenta tecnológica Wiki;
• Segmentação do texto impresso em tópicos que serão transformados em lexias independentes;
• Redefinição da ordem de apresentação do conteúdo, transformando o formato linear do texto impresso no formato “em raiz” do hipertexto.
• Enxugamento do texto para adaptá-lo ao gênero hipertexto, cujo conteúdo deve ser sucinto e objetivo, com frases curtas e significativas, sendo que as explicações mais detalhadas e as citações serão retextualizadas em forma de links do hipertexto básico;
• Remediação (substituição da palavra por outras mídias não-verbais), sempre que necessário ou conveniente;
• Análise e discussão das estratégias utilizadas e dos resultados alcançados;
• Seleção e sistematização das estratégias de retextualização eficazes, visando o seu uso pedagógico;
• Elaboração de conclusões e sugestões a respeito do experimento efetuado;
• Elaboração de relatórios científicos (parcial e final).
Ao longo de todo o período da pesquisa, pretendemos divulgar o seu andamento e eventuais resultados em eventos científicos e pedagógicos.
4. CRONOGRAMA DE ATIVIDADES

DESCRIÇÃO 2008 2009
AGO SET OUT NOV DEZ JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL
Fundamentação teórica
Orientação quanto ao uso do Wiki
Segmentação do texto impresso em lexias
Redefinição da ordem de apresentação do formato hipertextual
Enxugamento do texto para adaptá-lo ao gênero hipertexto, com a respectiva projeção de links
Elaboração de Relatório científico parcial
Remediação (substituição da palavra por outras mídias não-verbais)
Análise e discussão das estratégias utilizadas e dos resultados alcançados
Seleção e sistematização das estratégias de retextualização eficazes
Elaboração de conclusões e sugestões
Elaboração de Relatório científico final
Apresentação da pesquisa em eventos científicos e pedagógicos

REFERÊNCIAS
LÉVY, Pierre. Cibercultura. 2. ed., São Paulo: Editora 34. 2003.
MARCUSCHI, Luiz Antônio. Da fala para a escrita: atividades de retextualização. São Paulo: Cortez, 2001.
RAMAL, A. C. Ler e escrever na cultura digital. In: Revista Pátio, ano 4, no. 14, Porto Alegre: agosto-outubro 2000, p. 21-24. Disponível em: <http://www.instructionaldesign.com.br/ artigos> . Acesso em: 30 maio 2008.
LANDOW, George. HYPERTEXT 2.0: The convergence of contemporary critical theory and technology. Baltimore, London: University Press, 1997.
NIELSEN, J. How users read on the Web. 1997. Disponível em: <http://www.useit.com/alertbox/9710a.html>. Acesso em: 30 maio 2008.
KILIAN, C. Como tornar um texto eficaz para a Web. Disponível em <rb.moc.lou|melebp#rb.moc.lou|melebp>, 13 set. 2002, de <http://www.hainet.com.br/kilian/ver.php?id=6>. Acesso em: 30 mar. 2008.

BIBLIOGRAFIA E WEBGRAFIA COMPLEMENTAR
DIAS, M. H. P. Hipertexto - o labirinto eletrônico: uma experiência hipertextual. 2000 (Tese). Doutorado em Educação. Universidade Estadual de Campinas, Campinas - SP. Disponível em <http://www.unicamp.br/~hans/mh/principal.html >. Acesso em 30 mar/2008.
GOMES, Luiz Fernando. Hipertextos multimodais: o percurso de apropriação de uma modalidade com fins pedagógicos. 2007 (Tese). Doutorado em Lingüística. Universidade Estadual de Campinas, Campinas –SP..
MARCUSCHI, Luiz Antônio. O hipertexto como um novo espaço de escrita em sala de aula. In: Linguagem & Ensino, Vol. 4, No. 1, 2001 (79-111). [f_marcuschi.pdf]. Disponível em: <http://rle.ucpel.tche.br>. Acesso em: 30 maio 2008.

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